A poesia de Heyk Pimenta
heyk brauner pimenta estanislau
nasceu em 1987 no povoado de Pontões, Zona da Mata Mineira, em uma família de agricultores cafeeiros, junto de quem viveu até os 4 anos. Seu pai é mecânico de motos e sua mãe, professora de matemática. Com ela e sua irmã mais velha se mudou para Artur Nogueira, interior paulista, onde ganhou um irmão. Com 16 anos, foi trabalhar em Limeira-sp, passando depois por Araras-sp, Porto Alegre-rs, Marília-sp e,
desde 2007, está no Rio de Janeiro. Nesse ínterim, ganhou mais um casal de irmãos, mineiros. Vive com a Marianna em Vila Isabel e é pai do Zoé.
AUTOGIRO
girávamos
nos carrosséis vermelho e estéril
as orelhas dobradas
de papel pardo e barbante
e os embrulhos de palha empalhassem o povo
nossos órgãos
carregassem os dentes da mulher que canta
até tornarmo-nos só eu
e me restou o pescoço
cada vértebra
fundindo o ranço
agudo da medula privada de amor
o caminho
um pássaro minado
encerrando os bichos na burocracia da casa
apertando a carícia do peito contra
a argamassa da língua
e me restaram os mistérios anônimos da literatura
tomaram o estado e fiquei com a mulher como
a oswald restou a morta
e me restou a losna, o boldo, o limão,
meu fígado de papel
VIADUTO DA BENEFICÊNCIA
curvo
de ser uma resposta lapidar para os vales
o viaduto arfa
talhado
seu calçamento polido nos pés dos transeuntes,
seus parapeitos baixos
não é heroico
é de menos medo
mas é curvo bia
por não ser utópico
concreto armado
o viaduto da beneficência
senil
nos braços dos vergalhões
é curvo
doente de levar doentes
à encruzilhada íngreme
dos milhares de quartos portugueses de hospital
PENSO AGORA EM COMO VAMOS NOS VIRAR
nossos olhos são de gato marianna
e andamos mexemos
por dentro das bocas de bicho
que nos demos
mas é você quem me come e guarda
meus restos na mochila pra depois
sou seu cavalo de olhos furados pequena
a flor fodida onde põe minhocas e cascas de cebola
agora volto sem nada da rua nenhum golpe brotou
gastei nosso dinheiro e espalhei
nossos planos
amanhã não vai ser melhor o despertador
mostrará nossas cuecas penduradas na porta
e dirá eu sei, mas não resta saída crianças
A CIDADE AMARRADA À CINTURA
o inverno seria sempre o mesmo
não fosse o amassar as solas
ao atravessar a passarela
que farei hoje com mais pesar
levando a cidade demolida
para dentro do museu
as varandas interditas
e a cidade amarrada à cintura
não é possível despejá-la