A DESCONSTRUÇÃO DE VIVIAN DE MORAES
Vivian de Moraes enviou-me seu livro com um pedido: que eu o resenhasse. Junto com o livro, uma carta muito gentil e carinhosa. Aceitei de bom grado.
O próprio título dá a tônica da obra: descontruir a linguagem para, com ela, reconstruir as possibilidades: tanto as concretas, quanto as abstratas.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, cujo pensamento está em voga nos últimos anos, tem um conceito interessante. O que alguns autores classificam de pós-modernidade, ele chama de modernidade líquida. Por quê? Por duas características da água: ela é fluida e se “adequa” a qualquer recipiente. As relações na contemporaneidade são efêmeras, sem consistência, sem lastro. E as pessoas, com o senso crítico esmaecido, encaixam-se com facilidade em dogmas, preceitos, valores etc. Portanto, seria preciso construir uma nova visão de mundo.
Ora, para construir algo novo, é preciso antes descontruir. Não por acaso, Nietzsche afirmava que não há criação sem destruição. Eis o que a poeta Vivian de Moraes nos propõe.
Mas não se trata de uma desconstrução a porretadas. Os poemas de Vivian são brincadeiras com a linguagem. Jogos capazes de nos lembrar o lado lúdico da palavra, como bem sabiam os poetas da antiguidade. É a palavra despida do conceito, em estado puro de memória. A palavra que nos pega pelo braço e nos leva à infância.
Sua linguagem objetiva e direta, aliada a tons de ironia e humor, coloca o leitor face a face com o fazer poético. E mais: com os versos primeiro “desconstruídos” e, em seguida, “construídos”, ela sugere que o mundo, por mais caótico, pode ser rearranjado; pode ser construído e desconstruído como uma criança faz com seu castelo de areia.
O livro de Vivian de Moraes mostra-nos o não-lugar, as possibilidades entranhadas na escrita e manifestas em versos. Mostra-nos que a poesia é, por excelência, antidogmática: está se construindo e desconstruindo a todo instante.