30 de outubro de 2015

A poesia de Renata Flávia

corpos de dança inconsequente
te observo
olhos vidrados de devorador
cada curva
cada passo
eu carrego teu caos no meu amor
eu recrio via retina
uma cidade sem cor
em que cada palavra
seja o grito de guerra do usurpador
eu te carrego pra dentro
cuspindo cada desejo
cada prazer
no ventre do terror
meu mundo recriado
entre lençóis quentes, de asas e ardor.

 

renascida
a palavra encravada na pele
aquela falha em boca
transloucada no seio
essa palavra feito calor
suor da cidade defeito
a palavra sem sílaba
cheia de ardor e medo
essa palavra é a fera
que não me deixa inteira
fera sem rosto
pura sombra no beco
essa palavra carnívora
que nunca teve receio
essa se fez em meu corpo
como se já fosse inteiro
fez o que sou
sem que eu soubesse direito
decretou pra mim
a palavra sem fim
o eterno recomeço

 

o desenho da tua boca contorna e mata
entre o soco do clarão da realidade e a nudez divina do sonho
tudo é náusea
tudo é estrondo
nos meus ouvidos, nos meus olhos, nos cantos da casa
toda tua palavra
contorce meu estômago
um foda-se em neon brilha latejante onde você vai
um cordão umbilical é cortado antes do tapa
o choro não ataca
entre o desenho e o mapa, entre lambidas e farpas
todo sistema cai
une dois nadas entre as pernas de uma ponte ácida
sopro de lembrança
um puto drama de calçada
entre meus pés, meus dedos
uma terrível pontada de falha.

 

Renata Flávia é poeta e historiadora. Desenvolve pesquisas na área de história, literatura e cidade. Tem a promessa de publicar o livro “Lustre de Carne - e a cidades descascada no sorriso do caos”.