O pior que podia fazer
O pior que pôde fazer o imigrante foi oferecer resistência à autoridade. Claro, era normal que ele estivesse alterado, pois fora denunciado por abuso sexual pela senhora que morava na parte rica da cidade. Ele passava sempre por ali, voltando para sua casa, e naquele dia estava especialmente angustiado por receber mais uma maldita resposta negativa de trabalho. Nunca se metia com ninguém, cônscio de sua condição de estrangeiro, e sabia que estaria sempre melhor quanto mais se mantivesse longe de problemas. Que tinha mulher e filhos e estava buscando trabalho para sustentá-los.
Era isso que ele devia dizer ao policial que o prendera na rua, antes que ele lhe pusesse as algemas. Antes que o levassem para a delegacia para tomar seu depoimento. Antes que lhe dessem uma surra por abusar de senhoras de respeito. Antes que o jogassem numa cela, à espera de julgamento. Antes que, no dia seguinte, a senhora retirasse a queixa contra ele, dizendo com um sorriso amarelo que não tinha certeza de que aquele sujeito a havia molestado. Antes que ninguém lhe pedisse desculpas pelo engano e o pusesse de novo nas ruas.
Teria sido muito melhor se o imigrante conservasse sua calma e serenidade no momento em que fora detido. E não insultasse todo mundo, inclusive o delegado. E não enfrentasse a força da autoridade. E não tentasse fugir de modo intempestivo. E não caísse de bruços depois de receber um tiro pelas costas. Foi de advertência, disse o policial.
Mário Sérgio Baggio
Jornalista, morador de São Paulo – Capital, atua como Redator freelancer produzindo conteúdo para websites, blogs e redes sociais. É dono do blog www.homemdepalavra.com.br.