9 de junho de 2015

Tarde - Leitura Poética de "Do amor contente e muito descontente" (17), de Hilda Hilst

Nunca sei quando Hilda vai sorrir pra mim. Nem lembro a primeira vez em que isso aconteceu. Vez por outra, enquanto nenhum vento sopra, ela se faz em Exercícios ao lado da cama. Faz tempo que eu sorrio pra ela e ela se espelha em mim, ou talvez seja o contrário e por isso eu tenha me perdido em seus versos, em seu peito.

Por gostar de sorrir, mesmo quando a tristeza invade, é que leio este poema. É como se um samba, que fazendo sofrer sempre conforta a alma, ao fundo tocasse enquanto Hilda me abraça, devagar, de maneira entorpecente.

Esse, provavelmente, é o poema mais certo, pois o certo é não perguntar, mas sorrir.

 

 

17

As coisas que procuro
Não têm nome.
A minha fala de amor
Não tem segredo.

Perguntam-me se quero
A vida ou a morte.
E me perguntam sempre
Coisas duras.

Tive casa e jardim.
E rosas no canteiro.
E nunca perguntei
Ao jardineiro
O porquê do jasmim
– Sua brancura, o cheiro.

Queiram-me assim.
Tenho sorrido apenas.
E o mais certo é sorrir
Quando se tem amor
Dentro do peito.

(17 - Do amor contente e muito descontente, p. 246, Biblioteca Azul, 2013)