Tarde - Leitura Poética de "Do amor contente e muito descontente" (17), de Hilda Hilst
Nunca sei quando Hilda vai sorrir pra mim. Nem lembro a primeira vez em que isso aconteceu. Vez por outra, enquanto nenhum vento sopra, ela se faz em Exercícios ao lado da cama. Faz tempo que eu sorrio pra ela e ela se espelha em mim, ou talvez seja o contrário e por isso eu tenha me perdido em seus versos, em seu peito.
Por gostar de sorrir, mesmo quando a tristeza invade, é que leio este poema. É como se um samba, que fazendo sofrer sempre conforta a alma, ao fundo tocasse enquanto Hilda me abraça, devagar, de maneira entorpecente.
Esse, provavelmente, é o poema mais certo, pois o certo é não perguntar, mas sorrir.
17
As coisas que procuro
Não têm nome.
A minha fala de amor
Não tem segredo.
Perguntam-me se quero
A vida ou a morte.
E me perguntam sempre
Coisas duras.
Tive casa e jardim.
E rosas no canteiro.
E nunca perguntei
Ao jardineiro
O porquê do jasmim
– Sua brancura, o cheiro.
Queiram-me assim.
Tenho sorrido apenas.
E o mais certo é sorrir
Quando se tem amor
Dentro do peito.
(17 - Do amor contente e muito descontente, p. 246, Biblioteca Azul, 2013)
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