2 de junho de 2015

Tarde - Leitura poética de Balanços, de Paulo Henriques Britto

Quando li o verso derradeiro "vem, entra. a casa é sua." desmoronou em mim todos os pilares que me construíam. A Tarde, de Paulo Henriques Britto, ficou sendo a minha, uma, duas, três, inúmeras vezes e já não é mais possível falar de poesia sem que eu cite esse poema, este livro, pequenino, que me consome lentamente como o sol que diariamente nos deixa a partir das cinco da tarde.

É por causa deste livro, deste poema, que inicio algumas leituras poéticas. É por causa deste livro que a coluna se chamará Tarde, como se fosse uma homenagem. É por causa deste livro que me entregarei aos poucos.

Nada bastará para dizer o que sinto.

 

II
Como saber sem tentar?
Como tentar se é tão fácil
conformar-se de saída
com a ideia de fracasso?

Pois fracassar justifica
o não se ter nem sequer
admitido não querer-se
aquilo que mais se quer.

É um beco sem saída,
mas sempre é melhor que a rua:
mais estreito. Acolhedor.
Vem, entra. A casa é tua.

(Balanços, p. 15 in Tarde, Companhia das letras, 2007)