Videterna
Foi-se o tempo em que os tempos estavam para acabar. Já não existem mais os dias em que os dias eram contados, e contados com apreensão. Já não há nem lembrança do correr das horas. Tudo passa(?) calmo. Tudo é sereno. Tudo é. É. Tudo. Sem aperreios ou aflições, medos ou cansaços, angústias ou alegrias, sem choro ou corrupção, mágoas ou caridades, ódio ou felicidade, sem paz ou paixões, amores ou guerras, sem pensar e sem sentir. Tudo. Sendo. É. Eternamente.
Foi-se a era em que era presente e necessário um medo agudo e uma aflição cortante. Acabou-se a espera do que tanto se queria e temia. Resquícios nem registros não restam daquele tempo em que se media o tempo. Espaço não há. Tudo sereno. Tudo. Sendo. Sem morte. Sem vida. Sem Bem. Sem Mal. Sem brigas ou cortes, abraços ou ois (e ais), sem beijos ou despedidas, chegadas ou tchaus, sem lágrimas ou apertos de mão, sorrisos ou xingamentos. Sem. Sendo. Eternamente.
Foi-se o mundo sobre e no qual se morava e se pisava firme, embora hesitante. Nem meio grão de areia sobrou para contar o que foi que deixou de ser. O universo não conspira mais, nem a favor nem contra. Foi-se o universo. História não há.