A poesia de Keuri Caroline
és, dentro de mim
um nó górdio
inexorável
que ninguém desata
nem por engano
meu coração
teu cárcere perpétuo
túmulo que guarda meu martírio
antes revestido de diamante
contenta-se agora
com as paredes de ósmio
te nega alforria
e continua impenetrável
mas já não brilha, nem tem valor
apenas convalesce
no berço do conformismo
de seu irrefutável desamor
te guarda
na penumbra do silêncio
e te aceita como lembrança de pedra
que molda o peito ensaguentado
pois não consegue descansar em paz
espada nenhuma
será afiada o bastante
pra te amputar de mim
pois essa ilusão mortiça
é que me tira a sensatez
atrofia os membros, agoniza
mas nunca aceita o fato
que vieste sempre de súbito
nunca de solidez
*
meus desastres me escorrem pelas pernas
mais que o gozo da noite passada
minha volúpia se mantém impregnada
num plano onírico e tangente
em Marduk
em essência poética das mulheres escorraçadas
por Bukowski
após a foda
das enganadas por Vinícius de Moraes
após as juras de amor eterno
ninguém paga minha insalubridade
imanente
no final do mês
mas se permanecem imóveis
ante minha patogenia
é porque transcendem
com a nocivez
meu calendário
nenhum astrólogo consegue definir
e o lastro do meu mundo
cosmogonia nenhuma
é capaz de descobrir
minha alma se resume
na fadiga envolta em sentimentos
ambivalentes
na esquiva do suplício
que me é carregar o fardo
dos sedentos de amor
cuspo todos os dias
os quocientes inúteis
das minhas abstrações
e do lirismo exacerbado
que salta aos olhos
e obstrui as veias
me resta apenas o refluxo
do tédio a que tudo se resume
me resta beber da realidade
e morrer vomitando