A poesia de Jádison Coelho
PERMITA-ME O INCESTO
(Jádison Coelho)
Estou a falar de amor, e
não estranhe tal estranheza a minha.
Se não estranho a tal estranheza sua, por hora.
Se num dia estou a falar de amor
é por que vai ele muito mal.
Estou a falar de amor como um colar de pedras
desfeito num sopro quente, dissolvendo
a linha que sustenta pedras em si.
Meu amor não entra pelas portas do fundo,
mas pelas beiradas do telhado rachado,
num ping
pong das gotas da chuva reunida
num balde razo,
pra não molhar toda
a casa e não nos inun........dar
de tamanha estranheza.
E depois te pergunto eu, com tamanha firmeza:
De que nos adiantará se ainda não se fez tempo?
Eis aqui a triste certeza
dos lamentos árcades da vida que não permitiu
que fossemos aqui como colar de pedras,
só apenas pedras
espalhadas por dissolvida linha de sustento
em nossos colos.
Estou a falar de amor pelas notas de um rock sonolento.
Ser o abandono dos abandonados
é o meu triunfo mal acreditado de
um dia meu amor ainda ir bem,
e não tão mal como ness'hora,
que dispenso eu da danação e penso
não amar nunca mais!
E mais do que nunca,
estou a falar de amor, Anjos,
Anjos do mal.
Anjos do bem que me perdoe
o impiedoso rancar das cutículas
na cantiga de ninar que tirou o sono.
Destrona do destrono e venha pelo amor,
maldizer-me!
Ingratidão a sua, viu, o Amor. Ingratidão!
Logo eu, que sempre te fiz o favor de deixar-te em paz.
Veja só o castelo de baralhos que montei,
está desfeito por um relapso
da atenção nas vértices do mal.
Ainda sim, indedetizável nas pregas dum amor,
estou eu mal servido, Anjos de mal.
Anjos, não vê?
Não quero ser seu amigo,
Anjos, nem teu filho quero ser, ó mô pai.
O senhor é muito mais para ser apenas amor!
Olhe-me melhor no íntimo dos versos.
Permita-me tal incesto
se estou eu a falar da gente.
***
VERSOLHÁVEL
(Jádison Coelho)
Gosto
de quando
em vez de quando em quando
me perco da haste
enquanto
a figura transborda
a figura
por ela própria
pelas bordas miúdas
da loucura
e só há
o diabo para dizer
Amém
Amém disse
fulano ao cicrano
que, exclamou e indagou deltrano
como quem despenca de um pilar:
Cheiras bem! É o quilo isso
que dejetavas?
-Falacias
e só.
***
PARADOXÍLABO
(Jádison Coelho)
Me responda:
Qual poeta?
Um me arrepia a espinha e,
outro me enoja em todo o resto.
Eis que já dito, reponderei o óbvio:
São três!
Há um alguém em mim que geme as dores
Há outro alguém que ameniza os prantos
Há uma capa que junta ambos,
cintila o nascimento fazendo nascer
alegria.
E enquanto você é dois lados iguais
duma mesma moeda,
eu sou a dor do parto
anunciando o que tenho de melhor
em versos.
***
POETA DAS LUZES
(Jádison Coelho)
Olha aqui, poeta das Luzes,
por vezes te deixei vir e ocupar o meu lugar,
mas nestes versos de acá, quem canta é aquele
que não tem coroa
anda na proa duma nuvem
soltando gritos na tempestade.
Olha aqui, poeta das luzes,
moralista de mal resolvido,
a época do meu gemido é te suicidar
e manter-me sol apagado,
queimando...
Me deixe aqui pra ser levado por um raio.
E te partas enquanto há tempo,
poeta das luzes.
Me deixe só, e só não me controles,
pois como já dizias tu ao próprio descuido:
Aquilo lá só não come pedras, senhores,
que é pra não cagar entulhos.
***
FAÇO-TE GOZAR!
(Jádison Coelho)
Te faço rir.
Tua boca macia em meus
pensamentos ovais assim diz
pra mim:
-Você me faz rir.
E em cada riso teu estão os meus braços
sobre os teus,
as minhas pernas estão
sobe as tuas,
e Teu é o meu fôlego sobre tu mesma.
Assim te faço rir.
Assim você me faz vibrar líquidos escorregadios,
assim te faço eu
feliz e sorridente com gemidinhos abafados.
Por fim somos felizes.
Ora pois, se te faço ri,
por ora mérito, por ora prazer,
Faço-te gozar!
*Jádison Coelho, nasceu em Salvador-BA, no dia 25 de Julho de 1992, é natural da Atlântida Negra e do planeta Marte, poeta visceral, graduando no curso de Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia, pesquisador nas áreas de Literatura e Cultura, uma voz em vozes mescladas às identidades múltiplas, que constituem um espelho quebrado em estilhaços despidos de poesia escancarada na garganta virada. Viajante, diasporizante em ousadia, por ser um exilado da República, Coelho pega picula com os mais velhos e ultrapassa as fronteiras terrioriais. O poeta dobrado em múltiplos, participou do projeto “Bate Papo Musical” (A Produtora- Salvador-BA) , da antologia e prêmio “100 poemas 100 poetas” (LiteraCidade- Belém-PA), de boa fé integra a comunidade de Luso-Poetas. Por gosto dum gostar de em público maldizer de si e dos outros, publica alguns poemas nas redes sociais. Jádison Coelho participou da Antologia "Cidade10" (LiteraCidade- Belém-PA) com sete poemas que revelam de qual cloaca saíra para o mundo beijar. Cria de Anjos, Gregórios, Baudelaires e Bocages, lambedor da face roseana, o poeta baiano não é ninguém, é ele mesmo debruçado em leituras ao passo que ninguém lhe satisfaz o desejo de ser alguém pintado às irís saltitantes do leitor. Mas se não o quiser lê-lo, faz muito bem! Coelho é um fingidor, dissimulado, tem a língua escorregadia em forma de tapete. Ele finge tanto, mas tanto, que, finge fingir e mente de forma desmemorada. Esse poeta não é nada, meu senhor. E se um dia ele foi alguém, esse alguém não existiu, pois o existir é a capacidade respiratória dos não vermes. Releve a sua verve, quem feito hiena ataca, é por quê pode ser Ninguém.