Meu quintal é maior do que o mundo
Manoel de Barros é um dos poetas mais originais de nosso tempo. Sua obra inaugura um estilo único, que transforma a natureza, os objetos e a própria condição humana em expressões poéticas carregadas de significado e emoção. A antologia inédita Meu quintal é maior do que o mundo reúne poemas de todas as fases do escritor, oferecendo um panorama abrangente de sua produção literária. Em mais de setenta anos de ofício, Manoel redesenhou os limites da linguagem e seus sentidos, tornando-se, nas palavras de Ênio Silveira, “um alquimista do verbo”.A
Com seleção de Martha Barros, filha do poeta, e prefácio assinado por José Castello, o livro revela a vitalidade e o alcance universal do artista. Ao seguir a ordem cronológica de sua obra, oferecendo poemas de cada um de seus livros publicados, a antologia permite acompanhar a trajetória artística de Manoel de Barros. A edição conta também com o fac-símile de uma carta escrita por Antônio Houaiss na década de 90, em que exalta o poeta: “É certo que a invenção poética de Manoel de Barros tem personalidade própria rara entre os nossos poetas, rara mesmo entre os nossos grandes poetas. É por isso que ele é um poeta maior.”
Recortar a obra do autor não é tarefa fácil, já que assume muitas formas, e se move como as águas do Pantanal. O problema da presente seleção ou de qualquer recorte é, justamente, esta faceta: não se pode cercar a água. Nem com arame farpado. Afinal, como aponta Castello, no prefácio, “o objetivo da poesia de Manoel de Barros não é explicar, mas ‘desexplicar’.” Nesse sentido, afirma Castello, “A poesia de Manoel é feita de restos, de sobras, de dejetos. Como ele diz em um poema: de ‘inutensílios’. É uma poesia que se instala nos primórdios, quando as palavras ainda se confundem com as imagens.”
Embora fosse um erudito, Manoel de Barros preferia ocultar-se atrás de diversas máscaras, inclusive a da “ignorãça”, como ele grafava, à antiga. Numa de suas entrevistas, ele assim se define: “O poeta não é obrigatoriamente um intelectual; mas é necessariamente um sensual.” É esse sensualismo poético que lhe dá a feição genuína, e lhe permite, como ele ainda define, “encostar o Verbo na natureza”. Talvez nenhum outro poeta tenha tido uma relação tão intensa com ela. Por isso mesmo, a obra de Manoel de Barros foi escrita para o futuro.