Como ser um ET no século XXI
Ontem à noite, saí com um grupo de amigas e descobri que somos ET's. Com muita sorte, vizinhas do B-612.
Cinco professoras acompanhadas de seus respectivos, embora um deles estivesse presente apenas virtualmente, gargalharam até doer o abdômen. A comida era boa, o ambiente excelente, a música só Deus sabe qual era porque nem dava para ouvir. O som em primeiro plano eram as piadas e suas consequências óbvias.
Um encontro marcado via tecnologia do século XXI: wattsapp. E, embora sejamos assim meio conectadas, ao chegar em casa, percebi que não havia nenhuma selfie do momento. Nenhum check-in em rede social. Nenhuma prestação de contas com os amigos virtuais. Nada! Apenas uma foto feita pelo garçom, aquela para a posteridade, que, provavelmente, será emoldurada num porta-retratos, algo muito raro de ver nesses dias.
De certa forma, fiquei feliz com isso, pois percebo cada vez mais as pessoas deixando de viver para apenas registrar o momento. Fotografa-se a vida sem se dar o luxo e degustá-la. Uma coisa não impede a outra, mas as pessoas andam preocupadas em ganhar curtidas ao invés de sentir o vento no cabelo, a brisa morna que vem do mar, os raios de sol batendo no rosto, de olhar para a pessoa ao lado e lhe dar a devida importância ao desligar-se da vida virtual e ouvir o que a outra tem para contar.
Viramos escravos dos nossos smarts e eu, que sou de outro século, fico dividida entre me encaixar nessa nova forma de viver para não ficar obsoleta e mudar meu status para ausente por tempo indefinido.
Fico tentando lembrar em como minha mãe fazia quando queria falar comigo e eu estava no colégio. Nem tínhamos telefone fixo em casa. E nunca houve emergência suficiente para arrancá-la de casa e ir até o orelhão ligar para a escola. E será que ainda existe gente que saiba o que diabos é um orelhão? E por que os assuntos passaram a ser tão urgentes que verificamos o smart a cada segundo para saber o que está acontecendo? Não há mais tempo para ficar desconectado? Para ficar alheio?
Às vezes, me pego pensando no nada, no vazio, olhar fugindo pela janela ou de uma respostinha qualquer para perguntas que nem existem. E, num sobressalto, volto. Será que ainda posso ficar assim, desconectada? Será que o estado de off-line ainda é permitido? Quanto se cobrará por esse luxo quando descobrirem quão valioso ele é?
Minhas amigas ET's, nos encontremos mais. Gargalhemos a troco de nada e de tudo. Saboreemos a vida que nos é tão gostosa. Sentemos a olhar o por do sol e afastemos um pouco a cadeira para trás a fim de apreciá-lo novamente. Digamos olá aos nossos vizinhos, o príncipe e sua rosa. Compremos um carneiro e sigamos a vida assim, num doce carpe diem sem obrigações sociais virtuais.
P.s.: Click! Pausa para selfie com um baobá.