Mulheres e Quadrinhos independentes
Culturalmente, quando se fala de histórias em quadrinhos automaticamente lembra-se de histórias voltadas para o universo infantil. Se refletirmos um pouco, essa atribuição não é inteiramente equivocada já que o título mais conhecido do gênero é a Turma da Mônica, de Maurício de Sousa. Culturalmente, quadrinhos são “coisa de menino”. Mônica, por sua vez, é uma menina – e também uma homenagem à filha do autor – e já celebra mais de 50 anos de publicação.
Contudo, mesmo com esse perfil de sucesso, Maurício de Sousa certa vez declarou que “A mulher ainda não tem essa liberdade sem vergonha que homem tem, de trabalhar sem horários, voltar para casa tarde. Tem outras obrigações além do trabalho, tem que cuidar da casa, dos filhos. Quadrinho exige muito tempo de dedicação”. Se foi brincadeira ou não, ele foi não bem sucedido. É verdade que o mercado nacional ainda não abriu portas e janelas para a produção feminina, mas não significa que não exista um grande número de mulheres (cis e trans) produzindo e consumindo quadrinhos no Brasil. Não somos mais tão invisíveis assim. Muito menos estamos no século XVIII, quando as mulheres eram criadas para servir a um lar.
É quase impossível não falar do aumento de produções feitas por mulheres, ainda marginalizadas e estereotipadas no meio artístico, principalmente quando somos retratadas como personagens, quase sempre com o corpo objetificado. Felizmente, 2014 foi um ano que abriu portas e janelas para as publicações independentes em diversas plataformas (zines, blogs, páginas, tumblrs etc.) e também para a discussão sobre o assunto. Não é à toa que eventos como Encontro Lady’s Comics e [Des]enquadradas foram tão bem recebidos pelo público.
Eu não aprendi a ler graças às histórias em quadrinhos. Aprendi mesmo lendo o livro de culinária que minha mãe guardava. Rabisquei tudo, procurando achar sentido naquele monte de letrinhas e figuras de comidas complexas e sem graça. Pouco tempo depois, caiu na minha mão um exemplar da Turma da Mônica, do mesmo Maurício. Depois disso, encasquetei que queria ser desenhista (ou astronauta). Passaram-se os anos, virei ilustradora. Ilustradora independente e mulher no Nordeste brasileiro. Ou seja, uma prova de resistência.
Pensando nisso, segue abaixo uma lista de algumas das publicações que iremos comentar ao longo dos meses nesta coluna voltada exclusivamente para os Quadrinhos Independentes:
- Magra de Ruim – Sirlanney Nogueira
- A Ética do Tesão na Pós-Modernidade (vol. 1 e 2) – Lovelove6
- Delirium – Brendda Lima
- Umidade Relativa do Ar – Annima de Mattos
- O Pintinho – Alexandra Moraes
- Contos rabiscados para corações maltrapilhos – Luiza Souza
- Nina – Natália Matos
- Buzina – Manzanna
Boa Leitura!