Portal literário pra quê?

Desde o final de 2014, quando eu começava a pensar em refazer o layout do LiteraturaBr e algumas mudanças na política interna do portal, que uma pergunta me vem à mente: Por qual razão eu estaria levando à frente um portal sobre literatura?

Parece-me que são várias as razões, principalmente quando penso que cada um de nós deveria estar mais inserido nas questões artísticas de nossas comunidades. A sociedade, pra mim, não pode viver sem cultura, sem arte. Porém, o que vemos, é que a cada dia o Estado não contribui. As pessoas que desejam criar espaços para que o desenvolvimento da cultura possa reverberar de uma maneira melhor na sociedade não tem vez porque parece que cultura deixou de ser prioridade. E sim, isso me amargura imensamente.

O que percebo é que quando algum grupo artístico ou um artista solitário, um profissional, deseja realizar algo que visa principalmente a sociedade, ele tem que muitas vezes tirar dinheiro do próprio bolso, seja para fazer uma festa em prol da poesia, da música, do cinema ou o que seja.

Parece que temos que viver nos humilhando, como se estivéssemos fazendo um favor ou tendo que nos submeter às misérias políticas que nos impõem porque não temos como ir contra a corrente apenas com dois remos. Então, o que esperar disso tudo? Devemos ser um missionário em prol das artes em nossas cidades, em nosso país? Por qual motivo devemos criar uma companhia de dança, um grupo de teatro, uma apresentação musical ou realizar um sarau? Por que razão alguém, em sã consciência, também, intentaria em criar e manter no ar um site sobre literatura? Parece que são coisas distintas e muito diferentes, mas para mim são muito próximas.

Quanto à última pergunta, que é a que me diz respeito, apesar das motivações que me trouxeram até aqui hoje, eu ainda não sei responder a ela de uma maneira que me sinta satisfeito. Em  2015, o LiteraturaBr fará 3 anos que está no ar, praticamente com postagens todas as semanas. No último ano, durante 10 meses, incessantemente postamos pelo menos uma publicação por dia. Isso é algo extremamente complicado de se fazer. Mas parece que até quem vive em prol da literatura não percebe isso.

Por isso, tenho pensado muito na importância de sites como ele para a formação de leitores e divulgação de ações culturais. São poucos os sites que atuam constantemente com uma única preocupação: Publicar textos que contribuam de alguma maneira para alguém. Seja o autor que envia o texto e o tem publicado, seja um leitor que lendo um texto se apaixona pelo portal e vira uma pessoa querida que comenta e critica os textos que são postados. Entre esses portais, cito o Cronópios, o Homoliteratus, o Literatortura, o Posfácio e o querido MusaRara, que por vários motivos sumiu do mapa com todos os seus textos publicados. O editor, Edson Cruz, teve que “fechar as portas” do portal, devido ao tempo que dispendiam analisando textos e vários outros problemas, como a própria questão financeira para se manter um portal literário.

Temos também, é bem verdade, inúmeros blogs que fazem “resenhas” de livros que buscam contribuir de alguma maneira para a formação de novos leitores. O que me deixa infeliz nesses blogs é que os seus criadores parecem estar mais preocupados em ganhar livros e tê-los em suas fotografias do instagram do que realmente realizar uma resenha que possa conquistar os leitores e contribuir na divulgação de um novo autor ou obra. A maioria dos textos produzidos em blogs de literatura, quase sempre mantidos por adolescentes que estão se encontrado no mundo da leitura, não passa de simples notas de leituras e de elogios que acabam fazendo com que se tenha abuso do livro. Sim, digo isso porque eu leio vários deles, pois tento sempre estar atualizado sobre o que essas pessoas estão fazendo, o que estão lendo, quem são os nossos leitores atuais. Tentar pensar isso também é tentar entender de que maneira esses jovens estão unindo o poder da internet à literatura.

Diante disso tudo, cheguei à conclusão que manter no ar um site de literatura requer muito tempo. São muitos os autores que existem, mas parece, não quero acreditar nisso, que temos menos leitores do que escritores. Além disso, as leituras feitas com atenção, as respostas enviadas aos autores, que nem sempre estão abertos a conversas em que exista uma crítica e acabam achando que somos seus “empregados”, também tem me deixado cada vez mais para baixo. Parece que as pessoas não entendem que o que fazemos, com esses portais, é tentar sempre puxar mais, tentar que ousem mais na escrita, que possamos ter novos vieses sobre a literatura existente, mesmo que a originalidade seja quase impossível de ser alcançada. Parece que desejam ser sempre os mesmos, como se quisessem trazer os seus cotidianos até para a literatura... mas a literatura não vive de mesmice, não deve viver.

E acho que esse também é um dos motivos que nos deixa vivos até o momento em que nos cansemos, em que mentimos para nós mesmos afirmando que não temos mais forças para continuar a ler textos de outras pessoas quando elas próprias não leem textos de outros autores, quando elas não participam de eventos literários, quando elas não contribuem para fortalecer o sistema literário existente. Isso nos deixa fracos e sem vontade de continuar.

Assim, acredito que além do gosto que temos pela literatura e de estar possibilitando textos com qualidade serem veiculados, o que nos mantém é a esperança que um dia tudo pode ser melhor. Que um dia, quem sabe, esse romantismo que temos conosco possa virar realidade e que o mundo não seja um “1984”. Talvez seja essa a resposta.