Por LiteraturaBr
18 de novembro de 2014
Tentando parecer plausível ao fingir que não estou copiando descaradamente o Dostoievski
Sofro da cabeça. Meu caso é clínico. Meu fígado inchado, meu coração sofre e meus pulmões têm câncer. Tomo todos os remédios possíveis que me são desnecessários. Me recuso tomar o medicamento certo. Sou um hipocondríaco teimoso que logo irá morrer. E assim pretendo que seja. Meu caso é clínico, mas nenhum doutor quer me estudar. Eles me evitam. A boa gente me evita. Sou repugnante. Meu corpo é repleto de queimaduras de cigarros. Fumo muito, daí o câncer. Bebo pra pensar e meu fígado insiste em inchar. Vomitei sangue duas vezes. Tenho úlceras. Desconfio, na verdade, que já estou morto. Uma técnica revolucionária da ciência moderna bastou para me devolver à vida, por isso os médicos me evitam! Sou um experimento. Dos médicos e de deus. Sou ateu. Sofro das pernas, uso muletas. Minhas muletas não são aceitas pela sociedade. Não faço ideia do motivo. Todos olham pra elas de forma diferente e comentam sobre elas. Eles acham que não sei que falam das muletas. Eu sei. Eu sei e não ligo. Eu sei e choro. Sempre estou gritando por dentro. Preciso de um novo par de muletas, mas não tenho vontade de ir atrás. Não tenho vontade de mais nada.
por João Lucas Dusi