O núcleo poético de Madjer de Souza
uma coisa que essencial:
é de uma fratura a quota –
do laminar-se da faca da
alma ferida nas costas –
renúncia – por algum tempo –
da vida cotidiana:
é a reserva do silêncio
quando a voz tudo abocanha –
hiato eterno de relógio
com a medida que cresça
no pulso de cada homem
a liberdade que o expressa
no poema não cabe a vida
é mais um talho preciso
que se grava em cada face
no crispar de cada ricto
Notei, nesse e em outros poemas, a utilização da metáfora da faca. Essa palavra, de uso concreto, foi mais utilizada, especificamente, pelo poeta João Cabral de Melo Neto. Para ele, o poema devia ser lapidado com golpes de faca e foice, até atingir a linguagem ideal para a escrita. Além desse elemento concreto-metaforico, Madjer, assim como João Cabral, lapida e estrutura os poemas.
Madjer usa com frequência elementos de escrita concreta, com forte influência, como já citei, de João Cabral de Melo Neto. A lapidação, ocorre também, na desenvoltura das temáticas na obra e pela divisão do livro em três partes. É um livro fragmentado e costurado a partir da selvageria influencia de poetas modernos.
A meu ver, O núcleo selvagem do dia, é um achado poético para poetas e amantes da escrita concreta. Não há resquícios de um sentimentalismo ingênuo em Madjer, o poeta apreendeu e bem os conceitos da escrita a corte de faca. É um livro que deve ser lido e relido sempre a angustia do dia atacar o leitor. Eis um jovem poeta que já na estreia, demonstra versos maduros e potentes.
(OBS: Entrevista com Madjer:
http://www.literaturabr.com/2014/05/entrevista-com-madjer-de-souza-pontes.html )