11 de setembro de 2014

Apocalipse particular

andreasshabelnikov3

 

O fim do mundo já passou.

O fim do mundo aconteceu quando os renascentistas descobriram que a Terra não era redonda e que não era o centro do Universo. A igreja já sabia, mas fazia segredinho e quis calar a boca dos homens do Renascimento com veneno. Não deu certo! Cá estamos, Terra redonda, o Sol, outras galáxias e todos sobrevivemos, menos o Copérnico porque o mundo particular dele – esse sim – acabou!

O fim do mundo aconteceu quando a moça menstruou a primeira vez. Absorventes, espinhas, adeus bonecas, adeus jogar bola na rua porque dava varizes, adeus liberdade, adeus andar direito porque todo mundo sabia que ela estava “naqueles dias”. Como se o absorvente estivesse colado na testa, não na calcinha dela.

O fim do mundo também ocorreu quando a mulher, 30 anos, saudável, casada, linda e feliz ficou grávida. Ai, que susto! Mas logo passou, fez as contas das horas que passaria sem dormir, as fraldas que teria que trocar, as mamadeiras preparadas na madrugada, o resguardo, o enjoo, o cansaço, o parto – natural ou cesariana? –, o plano de saúde, a babá, o enxoval, o bercinho...  Mas, por complicações genéticas, o neném não veio. O mundo caiu para sempre!

O mundo acabou junto com o casamento mal-amado, a falta de olhar no olho, o sentimento pela metade, a roupa suja que deixou de incomodar, o cheiro no travesseiro que não interessava mais, as contas acumuladas debaixo do tapete junto com a poeira, o amor que virou sexo que virou obrigação que virou ausência de... Assim o mundo foi pelo ralo, os presentes do casamento pela janela e o amor descartado como um bicho morto que fede.

O mundo acaba todos os dias, sem nos perguntar se pode, sem querer saber dos nossos planos, dos nossos sonhos que adiamos infinitamente. O mundo acaba porque não prestamos atenção nele, pois isso dá muito trabalho. O mundo é simples e não conseguimos lidar com sua leveza, complicamos demais, racionalizamos demais ou de menos e esquecemos que o fim do mundo é inevitável.

Simples assim!