2 de setembro de 2014

3 poemas de Edson B. de Camargo

estraçalhados

durmo coberto
por pássaros

e tua ausência me dói

rebento minhas veias
em sacrifício
a deuses
que não compreendo
mas que me pedem sangue

as palavras
constroem meu ouvido
e olvido-me
o tempo todo

durmo agasalhado
por plumas
de teus pássaros
estraçalhados

e na expectativa
de teu beijo

ressono
e sonho
em infernos

pão

para fazer um pão
são necessárias mãos
e um amor infinito
ao ato da alimentação
para fazer um infinito
é preciso usar as mãos

como se fosse fazer um pão

primavera

primeiro o vento te cobre a pele
com aquela brisa gostosa
o arrepio de frio
o sentir-se vestido de ar
depois o cheiro da grama

da terra molhada

fechar os olhos
e ouvir a vinda dos pingos
o breve silêncio
a parede de água a se aproximar

a roupa molhada colada ao corpo

abrir a boca e sentir
o gosto da água gelada
misturado ao suor recente do rosto

tudo tem cheiro de sol
tem gosto de sol
mas o sol não está

por fim abrir os olhos
e ver as réstias de sol
furando as nuvens
e estas mitigando
coadas da chuva

tem prazeres
que o tempo não come

*Edson Bueno de Camargo - Santo André - SP, 1962, mora em Mauá – SP. Poeta, pedagogo, fotógrafo extemporâneo e entusiasta de arte-postal.

Publicou: “a fome insaciável dos olhos” - Editora Patuá – São Paulo- 2013; “cabalísticos” Orpheu – Editora Multifoco – Rio de Janeiro – 2010; “De Lembranças & Fórmulas Mágicas” Edições Tigre Azul/ FAC Mauá -2007; ”O Mapa do Abismo e Outros Poemas” Edições Tigre Azul/ FAC Mauá -2006, “Poemas do Século Passado-1982-2000” e o eBook “linho branco”, participou de algumas antologias poéticas e publicações literárias diversas: Babel Poética, Zunai, Germina, Meiotom, Confraria do Vento, O Casulo, Celuzlose, entre outras.