3 poemas inéditos de Leonardo Chioda
foram as tatuagens
foram elas que me tiraram a dançar
ao longo da noite
na plataforma lunar
e no peito do algoz
ao estreito e demente fio de cobre
alongado entre o violino e a calçada
foram as tatuagens
foi o felino negro chamado Amor
que cantou billie holiday aos pés
dos ouvidos e bêbados
dançaram ao longo da noite
na plataforma lunar, espelho
no peito do algoz a trincar as veias
pois cordiforme é meu espírito
e fantasma a nossa condição
mas minha carne dói na boca do Amor
e a tinta não sai
*
PLASTIC PLATH
Talvez
te consideres um oráculo,
porta-voz dos mortos, ou de um outro
deus, escreveu Sylvia.
Há vários anos que trabalha
para dragar o lodo da garganta
do marido.
Talvez com Pato Purific, Sylvia.
Entregue a redoma intacta. Epitáfio de porta
fechada, páginas panos
e mais panos
O gás não acha passagem
e guardemos bem as crianças.
Outra rua outro adultério.
Palhaço.
Flores artificiais, imagine.
Vai com fé, Sylvia.
Esfrega esses brônquios
com palha
de aço
.
Pouco mais sei, Sylvia.
Pouco mais sei.
*
LADRILÁTERO COGNITIVO
se define pela vértice
do texto
talhada no poder dos cantares
a matéria da imagem
é que retina qualquer espessura
um osso milimetrado pela genética
da palavra a emular as pulsações do zênite
talvez hecatombe, um ditado
linguístico de sustos para com o mundo-quintal
desenhado no sangue com a régua da alma
mas já co-ângulo
porque toda figura permite
o devaneio
daí considera a ceia no esteio
tecnicamente avarandada pela realidade
e então o plasma das letras
contrapartes
já apessoadas
escorpiana
mente encalacradas
no chão das tardes.
observação:
serve para surtir pétalas de nitidez
na mentira do tempo.