Roxo-mundo
A comparação com os giz de cera foi imediata: como era colorida a roda-gigante! Era um sábado de aniversário, era Miguel fazendo seis aninhos.
- Olha, pai... depois a gente pode ir naquele? – mirava um brinquedo chamado espalha-brasas.
- Sim, podemos. Mas segure a minha mão! Pare de querer correr, Miguel. Não vai ser fácil te procurar aqui, no meio dessa multidão, danadinho.
O menino Miguel, de tão hesitado com o brilho das cores e o funcionar dos brinquedos, parava de quando em vez só para dar uns pulinhos de felicidade e agarrar-se à perna do pai, agradecendo pela promessa cumprida.
- Olha a baaaaaa-la-la-la-la-la! – era o palhaço Defim, vendedor de balas e algodão doce.
- Pai, quero uma bala, dessas de mastigar. – ganhou duas, porque era seu aniversário.
O resto da noite foi um corre-corre pr’ali, um “agora nesse aqui” que não acabava mais. Até que o cansaço foi chegando, as pernas ficando esmorecidas, os olhos pesando de sono. A volta pra casa foi um resumo da maravilhosa noite no parque: “o mais legal foi aquele que girava bem rapidão, né, pai?” – e as risadas de Seu Abílio, afagando os cabelos em cachinhos do pequeno Miguel. Ao chegar em casa:
- Agora é tomar banho e ir dormir, viu, mocinho! E não se esqueça de escovar os dentes... mas antes cuspa fora esse chiclete, vai acabar estragando os dentes, rapaz! – Miguel queria saber se era diferente ou não o gosto do segundo chiclete, que guardava no bolsinho da camisa.
Um beijo na testa. Um boa-noite. O cuidado em distribuir bem a coberta para proteger do frio o filhinho querido.
Três e quarenta da madrugada. Duas tosses secas e a procura de ar:
- É o Miguel, vai lá olhar o que foi – disse dona Giselda, empurrando a cabeça do marido.
- É nada não, criatura. Criança é assim mesmo, sempre tosse depois que se dana muito.
O domingo amanheceu nublado, de luto pelo embrulhinho roxo que amanheceu onde Miguelzinho dormiu e não mais acordou.