A poesia de Fabrício Donizete
Pega essa folha com a mão direita
Dobra-a ao meio
Tira um parte,
a mais leve,
Escreve uma frase,
a mais breve,
Pronuncia cada letra,
com a maior ênfase,
Aguarda a resposta,
a mais dura,
Guarda a mágoa,
com a menor frieza,
Sai,
e não esqueça de devolver a caneta.
Meninos da Candelária
Entre cruzes de pedra
vivem os meninos da Candelária
São pequenos,
raquíticos,
meninos farrapos,
perambulantes entre os cascalhos,
os passos lisos dos solos paroquiais.
À noite,
os ratos dialogam
com os Meninos da Candelária
E a escura e fria
transição dos dias,
fica clara,
entre isqueiros e pedras,
quando a lata queima
pesadelos e dores
fumados repetidamente
de segunda a sexta-sempre
raticida vida,
dos Meninos da Candelária
Orações mudas aos meninos,
marmitas repletas,
roupas rasgadas,
sonhos dormentes,
vidas explosivamente cristalizadas
como pedras
no couro dos Meninos da Candelária
Eis que num dia,
como outrora,
em epifanias,
raja dos céus,
as balas encontradas,
a carne queimada por tiros,
a língua cortada por tiros,
os sonhos dormentes,
os gritos pertinentes,
nada mais rasga a noite
dos Meninos da Candelária
Entre cruzes de pedras,
entre as lápides de pedra,
entre os fumos das pedras,
repousam,
sangue e sonhos,
dos Meninos,
da sanguínea Candelária.
Gramática erótica
Eu cedo
Tu cedes
Ele,
sede.