Perfil Poesia Brasileira – Cacaso: “Fazendo versinhos, querendo carinho”
Ah se pelo menos o pensamento não sangrasse
Ah se pelo menos o coração não tivesse memória
Como seria menos linda e mais suave
minha história.
Cacaso
Os anos 70 é uma década marcante na poesia brasileira, sem espaço no grande mercado editorial brasileiro ou não desejando fazer parte dele, muitos poetas resolveram transbordar seus poemas em papéis mimeografados, distribuídos ou vendidos em bares, ruas, saraus e encontros literários, alguns começaram a publicar por si mesmo seus livros e fazer a distribuição nesse circuito. Resultado, uma poesia bem mais irreverente, mas seria de qualidade? Nem todos, porém com muita liberdade, ousando na forma e no conteúdo.
Essa geração, que recebeu tantos nomes, poetas marginais, geração mimeógrafo, revelou nomes que hoje se tornariam grandes best-sellers de, quem suspeitaria que um Paulo Leminski, uma Ana Cristina Cesár, um Chacal, um Waly Salomão seriam vendidos hoje igual a pão?
Dos nomes dessa geração, destaco aqui Antônio Carlos de Brito, o nosso CACASO, menino das Minas Gerais, que nasceu no dia 13 de março de 1944, na cidade de Uberaba, assim como o cometa Halley, passou tão rapidamente por nossos olhos, que foi-se no dia 27 de dezembro de 1987, deixando seus amigos do Rio de Janeiro e de todo Brasil com falta de versos no peito.
Cacaso foi professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na PUC/RJ, Rio que foi a cidade do poeta durante o maior período da sua vida, mesmo mantendo relações de amor com sua Minas, tanto que escreveu um livro intitulado Mar de Mineiro, Já resenhado aqui no LiteraturaBR
(http://www.literaturabr.com/2013/02/mar-de-mineiro-o-desaguar-em-si_12.html).
Seu primeiro livro A palavra cerzida (1967)é o mais musical de sua obra, o poeta foi letrista e fez parcerias com Edu Lobo, Tom Jobim, Francis Hime, Sivuca, João Donato, Joyce, ainda nesse primeiro livro, poemas ainda mais longos, divido em partes, se modificariam com a publicação de seus outros livros, Grupo escolar (1974), Beijo na Boca (1975), Segunda classe (1975 em parceria com Luís Olavo Fontes) Na corda bamba (1978) e o já citado Mar de mineiro (1982). Essa fase anos 70, é talvez a mais genial na carreira da Cacaso, o verso muito conciso, o verso irônico, não ausente de lirismo, torna o autor, na minha perspectiva de admirador de toda geração dos anos 70, um dos mais originais dessa fase.
( Lero -Lero Parceria de Cacaso com Edu Lobo)
Heloísa Buarque de Hollanda, em 1975, publicou um livro chamado 26 poetas hoje, uma antologia que é o marco da dita “poesia marginal”. Não é à toa que o livro, que reúne nomes como Francisco Alvim, Torquato Neto, Capinan, Ana Cristina Cesár , Chacal, Waly Salomão. Tem como epígrafe de abertura um poema de Cacaso:
Modéstia à parte
Exagerado em matéria de ironia e em
matéria de matéria moderado.
Assim é Cacaso e sua poesia, contida em tamanho, transbordante de ironia e de lirismo, mas chega de LERO-LERO vamos aos poemas e as canções de Antônio Carlos de Brito.
Estilhaço
não me procure mais
não relembre
cada um sofre pra seu
lado
Falando sério
Outro amor? Não caio mais
Amor Amor, Cacaso e Sueli Costa
PRÉ-HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA PERIFÉRICA OU
NINGUÉM SEURA ESSA AMÉRICA LATINA
OU OS IMPOSSÍVEIS HISTÓRICOS OU
A OUTRA MARGEM DO IPIRANGA
jamais mudar pela violência
mas manter pela violência
morte ou dependência
CONTANDO VANTAGEM
Muitas mulheres na minha vida.
Eu é que sei o quanto dói.
PANACEIA
Mesmo triste comprove
a alegria é a prova dos 9
INFÂNCIA (2)
Eu matei minha saudade mas depois
veio outra
NATUREZA MORTA
toda coisa que vive é um relâmpago [ para Charles]
FOTONOVELA
Quando você quis eu não quis
Qdo eu quis você ñ quis
Pensando mal quase q fui
Feliz
INDEFINIÇÃO
pois assim é a poesia
esta chama tão distante mas tão perto de
estar fria
Dentro de mim mora um anjo, Cacaso e Sueli Costa.
LÁ EM CASA É ASSIM
meu amor diz que me ama
mas jamais me dá um beijo
pra continuar rejeitado assim
prefiro viajar pra Europa
HAPPY END
o meu amor e eu
nascemos um para o outro
agora só falta quem nos apresente