11 de julho de 2014

Perfil Poesia Brasileira, Cassiano Ricardo: “Como amanhecer em meio a isto tudo”?

"A instantaneidade me trouxe a graça da imobilidade"

Cassiano Ricardo

No dia 26 de Julho de 1895 nasceu o Poeta, Ensaísta e Jornalista Cassiano Ricardo Leite. Na Poesia Brasileira Ele atravessou do Parnasianismo até as Vanguardas, caminhado sua vida junto com a própria literatura. desse modo não é exagero dizer que, igual a Manuel Bandeira, a Obra de Cassiano Ricardo é um passeio pelas principais tendências da Literatura Poética do Século XX no Brasil.

O escritor, que só veio Falecer com 78 anos, no dia 14 de
Janeiro de 1974, iniciou sua carreira com o livro de poemas Dentro da Noite (1915), de versos parnasianos, tendência que segue também no segundo livro, A frauta de Pã (1917). Nessa Primeira fase consegue arrancar elogios de Poetas Célebre do Parnasianismo, Olavo Bilac, Alberto de oliveira, Luís Guimarães Filho, entre outros, destacaram a habilidade do jovem promissor ourives do verso.

Porém, a mudança, essa sim, junto com a consciência do verso serão as únicas companheiras do Escritor, assim, Cassiano torna-se um dos principais entusiasta do movimento modernista no Brasil, aderindo o movimento verde-amarelismo publica o livro Martim Cererê (1928), com marcas do lirismo patriótico, próprio do movimento.

Contudo, a primeira grande ruptura de Cassiano consigo mesmo e com sua Obra deu-se em 1947, através de Um dia depois do outro (1947) e de seus subsequentes, Poemas murais(1950) e A Face perdida (1950). A mudança foi tal que poetas como Manuel Bandeira chegaram a dizer que essa era “A nova estréia” do poeta. Impressionado também Oswald de Andrade que afirmou: “E nós que tínhamos dele a medida do cidadão exterior, cumpliciado e de 'deveres e obediência civil', vemos com angústia e alegria que se quebraram seus ângulos oficiais”

Depois disso até a data de sua Morte, Cassiano não deixou de mudar, ousar, experimentar, buscar o verso certeiro, trouxe pra si todos os recursos modernos tipográficos, trabalhou com o espaço gráficos, com o vazio e o cheio da página, fazendo inclusive poemas concretistas.

Com tão vasta e diversa poesia, com tantas nuances e tantas revoluções, traçar um perfil intacto da poesia do autor é uma tarefa quase vã, Cassiano é um verdadeiro universo, uma América ainda não descoberta pelo mar de leitores brasileiros e do mundo. Porém, aqui fica cinco poemas para o deleite de nosso queridos Leitores, e digo, é só a Ilha Pascoal, se navegarem por esses verdes mares bravios, vocês conheceram um novo continente.


POEMAS
O IRMÃO ADIADO
Ir de mão em mão até
ao irmão.
Diálogo entre
a infância e a distância
Só encontrar o irmão
de ir contra mão.
Ir de encontro em vez
de ir ao encontro
na cidade
sem gamati/cidade.
Procurar, mas em vão
o irmão do irmão do irmão do irmão
e, um atrás do outro,
o irmão sempre adiado
SERENATA SINTÉTICA
                     Lua
                     morta
                           Rua
                           Torta
                     Tua
                     Porta
LADAINHA I
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de Ilha de Vera Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz
Ilha verde onde havia
Mulheres morenas nuas
Anhangás a sonhar com histórias de luas
E cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o nome
Pra Terra de Santa Cruz
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de
tanga e onças ruivas deitadas à sombra das
árvores mosqueadas de sol.
Mas como houvesse, em abundância,
Certa madeira cor de sangue cor de brasaPorém, a mudança, essa sim, junto com a consciência do verso serão as únicas companheiras do Escritor, assim, Cassiano torna-se um dos principais entusiasta do movimento modernista no Brasil, aderindo o movimento verde-amarelismo publica o livro Martim Cererê (1928), com marcas do lirismo patriótico, próprio do movimento. 
Contudo, a primeira grande ruptura de Cassiano consigo mesmo e com sua Obra deu-se em 1947, através de Um dia depois do outro (1947) e de seus subsequentes, Poemas murais(1950) A Face perdida (1950). A mudança foi tal que poetas como Manuel Bandeira chegaram a dizer que essa era “A nova estréia” do poeta. Impressionado também Oswald de Andrade que afirmou: “E nós que tínhamos dele a medida do cidadão exterior, cumpliciado e de 'deveres e obediência civil', vemos com angústia e alegria que se quebraram seus ângulos oficiais”
Depois disso até a data de sua Morte, Cassiano não deixou de mudar, ousar, experimentar, buscar o verso certeiro, trouxe pra si todos os recursos modernos tipográficos, trabalhou com o espaço gráficos, com o vazio e o cheio da página, fazendo inclusive poemas concretistas.
Com tão vasta e diversa poesia, com tantas nuances e tantas revoluções, traçar um perfil intacto da poesia do autor é uma tarefa quase vã, Cassiano é um verdadeiro universo, uma América ainda não descoberta pelo mar de leitores brasileiros e do mundo. Porém, aqui fica cinco poemas para o deleite de nosso queridos Leitores, e digo, é só a Ilha Pascoal, se navegarem por esses verdes mares bravios, vocês conheceram um novo continente.

POEMAS
O IRMÃO ADIADO
Ir de mão em mão até
ao irmão.
Diálogo entre
a infância e a distância
Só encontrar o irmão
de ir contra mão.
Ir de encontro em vez
de ir ao encontro
na cidade
sem gamati/cidade.
Procurar, mas em vão
o irmão do irmão do irmão do irmão
e, um atrás do outro,
o irmão sempre adiado
SERENATA SINTÉTICA
                     Lua
                     morta
                           Rua
                           Torta
                     Tua
                     Porta
LADAINHA I
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de Ilha de Vera Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz
Ilha verde onde havia
Mulheres morenas nuas
Anhangás a sonhar com histórias de luas
E cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o nome
Pra Terra de Santa Cruz
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de
tanga e onças ruivas deitadas à sombra das
árvores mosqueadas de sol.
Mas como houvesse, em abundância,
Certa madeira cor de sangue cor de brasa
E como o fogo da manhã selvagem
Fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
E como a Terra fosse de árvores vermelhas
E se houvesse mostrado assaz gentil,
Deram-lhe o nome de Brasil.
Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros
Brasil cheio de luz.
E como o fogo da manhã selvagem
Fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
E como a Terra fosse de árvores vermelhas
E se houvesse mostrado assaz gentil,
Deram-lhe o nome de Brasil.
Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros
Brasil cheio de luz.

 

 
 
A CANÇÃO MAIS RECENTE
O poeta
com a sua lanterna
mágica está sempre
no começo das coisas.
É como a água, eternamente matutina.
Pouco importa a noite
lhe ponha a pena
do silêncio na asa.
Ele tem a manhã
em tudo quanto faça.
Além disso o amanhã
nunca deixará de ter pássaros.
RELÓGIO
Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser.

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.
CAFÉ-EXPRESSO
1
Café-expresso — está escrito na porta.
Entro com muita pressa. Meio tonto,
por haver acordado tão cedo…
E pronto! parece um brinquedo…
cai o café na xícara pra gente
maquinalmente.
E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo
nesta pequena noite líquida e cheirosa
que é a minha xícara de café.
A minha xícara de café
é o resumo de todas as coisas que vi na fazenda e me vêm à memória
[apagada…
Na minha memória anda um carro de bois a bater as porteiras da
[estrada…
Na minha memória pousou um pinhé a gritar: crapinhé!
E passam uns homens
que levam às costas
jacás multicores
com grãos de café.
E piscam lá dentro, no fundo do meu coração,
uns olhos negros de cabocla a olhar pra mim
com seu vestido de alecrim e pés no chão.
E uma casinha cor de luar na tarde roxo-rosa…
Um cuitelinho verde sussurrando enfiando o bico na catléia cor de
[sol que floriu no portão…
E o fazendeiro, calculando a safra do espigão…
Mas acima de tudo
aqueles olhos de veludo da cabocla maliciosa a olhar pra mim
como dois grandes pingos de café
que me caíram dentro da alma
e me deixaram pensativo assim…
2
Mas eu não tenho tempo pra pensar nessas coisas!
Estou com pressa. Muita pressa.
A manhã já desceu do trigésimo andar
daquele arranha-céu colorido onde mora.
Ouço a vida gritando lá fora!
Duzentos réis, e saio. A rua é um vozerio.
Sobe-e-desce de gente que vai pras fábricas.
Pralapracá de automóveis. Buzinas. Letreiros.
Compro um jornal. O Estado! O Diário Nacional!
Levanto a gola do sobretudo, por causa do frio.
E lá me vou pro trabalho, pensando…
Ó meu São Paulo!
Ó minha uiara de cabelo vermelho!
Ó cidade dos homens que acordam mais cedo no mundo!