Quando a qualidade vira quantidade
É difícil ver nas livrarias um novo autor, principalmente os que são publicados por pequenas editoras, que tenha por trás da publicação de seu livro um verdadeiro poder de marketing, mas eles existem. Sabe-se que sem a publicidade, hoje em dia, muitos autores ainda estariam esquecidos e nunca teríamos tido notícias deles. As pequenas editoras sabem disso e por isso não compram corridas contra as grandes editoras. Daí, um questionamento poderá surgir entre muitos leitores e críticos: Até que ponto a qualidade do livro, da escrita é levada em consideração?
A qualidade literária parece que vem sendo um problema para os novos autores e não falo isso com pretensão de afirmar como se deveria escrever, mas que realizando comparações de leituras feitas por mim, percebo que não há preocupação com a linguagem e com o que se faz nas estruturas narrativas que surgem em nossa literatura. Os nomes que despontam no cenário literário brasileiro, muitas vezes, deixam a desejar. Parece que a análise de um livro, atualmente, é feita a partir da badalação que é feita em torno da obra, o que acaba por iludir até os mais perspicazes. Estamos todos à mercê.
O que contribui ainda mais para que isso continue a se desenvolver é, por exemplo, pois não é apenas uma, a questão dos prêmios literários, que corroboram, muitas vezes, com livros que estão presentes, quase que constantemente, na alta mídia. Sejamos sinceros, quem aparece quer ser visto, neste caso, quer ser lido. E, ao contrário do que dizem, prêmios valem muito. Dizer que apenas os medíocres buscam vencer um concurso literário é algo ultrapassado e um argumento pífio. Pois um autor premiado chama a atenção das grandes editoras e, principalmente, do público. Coloque-se um selo na capa do último livro vencedor de qualquer grande prêmio literário e veremos que, possivelmente, sua venda irá disparar.
Talvez alguém questione apontando que isso não é verdade. E assinarei embaixo. Não é sempre que isso ocorre, principalmente se o autor estiver sendo publicado por uma pequena editora. Mas sejamos sinceros e capazes de admitir que um autor que chega numa final de um Prêmio Telecom, por exemplo, tem consigo a certeza de que seu livro venderá mais algumas dezenas e que seu bolso, aleluia, irá sentir o gosto do dinheiro um pouquinho a mais. Não que o escritor seja louco por dinheiro, para muitos escrever é uma profissão, daí a felicidade ao ganhar um prêmio literário, de preferência aqueles que ao final dão um cheque.
Questiono-me, assim, sobre o que realmente importa em uma nova publicação. Seria a quantidade ao invés da qualidade? Importa saber quantos prêmios determinado autor venceu ou saber quantos milhares foi investido para que o seu livro vire um best seller?
Em ambas as hipóteses, acabo por achar que o bom senso fica de lado e deixamos o mercado do capital ganhar essa corrida. Os leitores ficam submetidos a esse sistema e acostumados a ele. Assim, ler autores que são publicados por pequenas editoras ou que se autopublicam vira um problema no Brasil. Para alguns, eles não são quase nada, pois não têm investimento e muito menos ganharam prêmio algum, com certeza eles não escrevem bem, por quais motivos deveríamos comprar sua obra?
No final das contas, parece que a culpa é da pequena editora, ainda desconhecida, que, apesar dos trabalhos hercúleos que realiza, é menosprezada.