A desumanização, de Valter Hugo Mãe
A vida que não é mais da criança, pois a mãe lhe culpa pela morte da irmã gêmea, mas tem no pai a poesia na palma da mão, que não se perde, mas sempre esquecida em recortes de papéis jogados nos abismos das almas, essas que não se salvam frente à imensidão e da força do frio da Islândia. Parece que Halla vive como seu país, num estado catártico em que não é possível conceber sua própria alegria, como se a mortidão do cenário existente estivesse presente em si desde o momento da perda da irmã. É como se o calor concebido a dois não pudesse mais existir, mesmo que com o Einar, seu amante, pudesse se deitar à cama, mesmo sem ter idade ainda para tal. Assim, Halla, quando quer fugir de si, imagina que “Os mortos podem ser só um instrumento da morte. Como se existissem para aumentar o reino terrível que habitam”, pois as pessoas já não mais existem, e por isso ela deseja deixar o Einar e correr para o abismo, como se a fuga fosse necessária ao invés de viver, pois no mundo da Islândia, apesar das pessoas tentarem se amar, elas não existem assim como no resto do mundo, pois as pessoas “estão a acabar. Foram embora para dentro da memória. Foram-se ressentidas. Agora são apenas uma recordação, como serão também uma possibilidade.”, já que “Esse tempo é outro. Serve [apenas] para matar”.