16 de junho de 2014

Mas o que é ser independente?

 

 

A pergunta pode ser cabulosa. Quando fiz essa pergunta a mim mesmo, há algum tempo, eu não entendia nada de mercado editorial, não sabia como se editava um livro, quais eram as etapas que o compunham. Também não sabia que era possível um autor desconhecido conseguir ser publicado por qualquer editora, seja ela grande ou pequena, eu nem sabia o que era uma editora. Porém, a bola azul gira, e quem tem boca vai a Roma, não é assim?

Aos poucos, fui entendendo como se dava o processo para a publicação de um livro. Foi em conversas com desconhecidos, através da internet, e de cursos que me “profissionalizaram” a ser editor, que entendi como se dá todo o desenvolvimento da criação de um livro a partir do momento em que se recebe um original para ser aprovado ou não.

Esses processos são os mais importantes e que, muitas vezes, o autor desconhece, acredita que é simplesmente enviar o original, seja ele impresso ou em arquivo do word, que a editora irá publicá-lo. Tola loucura. Seja ele um Homero ou um Chacal, a verdade é que todo autor passa por críticas e sua obra sempre leva alguma bofetada, ou várias, antes de sair da prensa. Até lá são muitos os processos.

Desde o momento de análise, passando pela revisão e pela preparação do projeto gráfico do livro, até o momento da venda – um momento muitíssimo importante – são muitas as agruras e venturas de editar um livro. Eu, novo no pedaço, que o diga. E o que mais me chama a atenção, hoje em dia, é uma pergunta que me jogaram assim "no meio dos peitos": O que é ser independente?

Parei e pensei durante uns dias e não sei se achei bem a resposta. Alguns amigos editores acreditam que ser independente é não nos entregarmos ao comércio livreiro, que nos assaltam a mão armada - a violência está em todo lugar - com percentagens enormes, diminuindo, ao meu entender, todo o trabalho realizado em prol de lucro. Esse ponto por si talvez já bastasse. Mas há ainda a questão de publicar quem a editora desejar sem se importar muito com a reverberação que o livro terá, uma vez que o editor independente quer apenas ter o autor  compondo seu catálogo ou apenas ajudar a um escritor amigo a ter o seu livro de poemas ou contos publicado. Ele não quer uma carreira de escritor, é apenas um desejo de três, entendeu?

Porém, apesar disso, acredito que uma editora independente não deve e nem pode deixar de lado a questão da venda. Sim, da venda! A venda, não, não venha apontar o dedo pra mim sem antes ler o resto do texto, é o momento crucial e mais importante de todo esse processo para as pequenas casas editoriais, ou como uma jornalista preferiu chamar “editoras fundo de quintais”; somos quase uma banda de pagode, então, e olhe que com certeza nos daríamos bem se participássemos do mercado.

 

Mas, realmente, vender o livro é o mais importante? Sim! Para uma editora independente vender o livro é mais importante, pois só assim ela se mantém e é possível publicar novos escritores. E continue a ler o texto pra não ter uma ideia errada do que estou escrevendo e de mim e achar que estou a concordar com a questão do lucro. Não é isso.

Tudo isso não quer dizer, em hipótese alguma, que o conteúdo dos livros que são publicados por essas pequeninas casas editoriais é irrelevante. Pensar assim é pensar pequeno e desconhecer o mínimo que seja de comércio. A editora independente tem uma vontade de poder ser livre e fazer o que bem entender, porém como todo santo cidadão ela tem suas contas para pagar e o editor precisa se manter, ou vocês acham que ele vive de páginas e capas duras, onde a saúde está fundamentada em uma dieta rica em fonemas?

Brasileiro que é brasileiro sabe que vivemos na terra do imposto. E apesar dos livros serem isentos em alguns pontos, o comércio livresco mata a pauladas, como se utilizassem aqueles mosquetes elétricos para matar moscas ou pernilongos. Ter uma editora independente, hoje em dia, não é nada fácil, é quase um suicídio! Contudo, é algo que vem acontecendo, ao longo dos últimos anos, no Brasil. Talvez nessa última meia década com muito mais força, ou como nunca aconteceu antes na “terra do samba e do futebol”, não sei, ainda não parei para ler toda a história da editoração de nosso país. Mas é certo que são muitas as editoras pequenas que nascem, não crescem e morrem atrofiadas pela falta de incentivo de todas as partes, não apenas do governo, mas pela concorrência desleal que as grandes livrarias e a própria mídia exerce com o marketing pesado ao qual as "fundo de quintal" não possuem. Mas não esqueçamos dos leitores, eles são o ponto crucial nesse sistema, pois se a venda é mais importante é tão importante ter o leitor. E não deixemos de fora, também, os próprios autores publicados, que querem ver os seus livros publicados, querem ver seus livros serem lidos, participando de prêmios, que todos o comprem para em breve poder publicar um outro livro por uma outra editora independente desejar publicá-lo, enquanto ele, autor estreante, não dá a mínima para outras obras que estão no prelo e em breve ficaram a disposição para venda. Mas isso já é outro assunto e deixo isso para um outro texto.