Por LiteraturaBr
28 de maio de 2014
Em busca da palavra do mundo
por Alessandra Bessa
“Tenho uma folha branca
e limpa à minha espera:
e limpa à minha espera:
mudo convite
tenho uma cama branca
e limpa à minha espera:
mudo convite:
tenho uma vida branca
e limpa à minha espera.”
Ana Cristina Cesar
Uma folha em branco. Um lugar. E cada ser um mundo desfeito. E cada mundo uma morte. E cada morte um lugar que se torna um vazio que pede uma nova busca.
As palavras que se fazem frases e frases que se tornam textos. Textos que "desembocam” em uma outra vida.
Uma vida escrita no universo dos dedos sedentos. Já que o amor da poeta é um desespero. É a dança sutil que dispara “tiros absurdos" são tiros que querem alcançar o absurdo infinito de tudo.... Esta tenta sentir que, em algum lugar, poderá existir um alguém mais atraente, mais do que a sua solidão e é quando se dá conta que a solidão é perfeita. É quando se dá conta que a solidão mostra-se mais perfeita do que o amor.
Já dizia Fernando Pessoa “Boa é a vida, mas melhor é o vinho.
O amor é bom, mas é melhor o sono.
O amor é bom, mas é melhor o sono.
Ela esquece. Ela dorme. Ela lê. Ela experimenta as sensações mais diversas com a dor que a faz ser poeta. Ela veste-se de múltiplas identidades. Ela finge e até se engana. Mas não sabe disfarçar sua insatisfação com a necessidade de um amor que anseia
Com essa incompreensão a poeta almeja "rasgar" a linha de conforto da humanidade; com questionamentos existenciais e filosóficos, dos quais ela é a própria filosofia e completa um pouco a filosofia do mundo. Desta maneira, reconhece a escrita como um lugar primordial. A compreensão do mundo sob a ótica da literatura, que é para ela a única liberdade.
A morte como um excesso de vida... E a poeta sente uma atração irresistível pela morte...O vazio contido nas coisas "derrama" sobre ela uma efusão de pensamentos [caóticos]. Talvez de tão lúcidos vivem no infinito. Ela "brinca" com o infinito e com a incoerência, e com a loucura, e com a negação, e com a dor. [Um labirinto desmensurado.]. Ela é um labirinto desmensurado de palavras, sentimentos, lamentos, amores, dores... formas... vazio... vazio...
Talvez, queira fazer amor com o mundo. Depois sente " asco" e cospe na cara do mundo com nojo! Já que o mundo não soube lhe satisfazer.
A música que vive no ser da poeta é triste. Mas, como toda música triste, é intensa e bela. Consciente e inconsciente do que é, ela escreve... Como uma necessidade e como um ser que é aglutinado ao ato da escrita. Condenado a escrita... Condenado a dor... Condenada a ser uma entidade-texto no mundo concreto.
E vai se apresentando em linhas poéticas. Um pouco de si em letras. Um pouco de si no vazio das letras. Um pouco de si nas pessoas. Um pouco de si no escuro das coisas exatas e inexatas. Um pouco de si nos códigos linguísticos. Que não representam nada apenas miniaturas de um novo mundo-texto que não é ela.
Mas que se torna um alguém que fala alguma linguagem desconhecida. Desconhecida até mesmo dela: a poeta que escreve o desconhecido. Porque a vida nunca foi dado a ser algo para o conhecer. Porque a vida, mesmo a vida criada pela poeta, não pode ser conhecida. A poesia existe, a poeta existe, existe a dor, existe a vontade, existe o amor, existe o caos... No entanto, nunca conheceremos o “grito” dessas cores. [Cores de Almodóvar].
O grito emitido é ensurdecedor. E o universo não se apercebe. Não podemos escutá-los. Ela, a poeta sente e tenta dizer e desabrocha em sua intensidade: um sentir e um criar. Um alguém chamado poema. Que não é ela e não é ninguém. É um poema. Apenas e unicamente um poema. Que como um ser, que como uma entidade é dado a labirintos e complexidades, das quais resvalam entre as substancias da vida e da incompreensão.