O som no cinema: imagens que vibram
A música suplementa a atmosfera cinematográfica desde os primeiros filmes. Nas apresentações no cinématographe Lumière, o som de piano acompanhava as projeções ao vivo, desempenhando assim, um ritmo. Talvez por isso, muitos contestem a noção de Cinema Mudo, já que o som sempre permaneceu junto às imagens, fortalecendo a dramaticidade das cenas.
A invenção do telefone sem fio por Landell de Moura em 1904, contribuiu para muitos cientistas pensarem na possibilidade de unir em definitivo as imagens fabricadas aos sons produzidos. Mas mesmo antes do telefone, o Fonógrafo, aparelho que Thomas Edison desenvolveu em 1878 para gravar e reproduzir o som, já alçava voos a fim de captar e emitir sensações através das ondas sonoras. Posteriormente, Edison elabora outra máquina, o Kinetoscope, que tinha a função de sincronizar as imagens da câmera ao som do Fonógrafo.
Com o Kinetoscope, Edison pôde fixar o som à película, que mesmo com uma má qualidade, foi determinante para prover os filmes de diálogos. Portanto, o cinema proporcionou o elemento sonoro em relação ao dispositivo imagético, condicionando o espectador a direcionar não somente sua visão, mas também sua audição para a tela.
Para entendermos o porquê da vontade de obter filmes sonoros, temos como exemplo o filme Berlin: sinfonia de uma cidade (1927). Este filme de Walther Ruttmann, apesar de gravado de forma silenciosa, é emblemático para pensarmos a composição sonora na máquina cinematográfica. As imagens mostram o acordar e o anoitecer da cidade de Berlin, contudo, o tom do filme é outro quando assistido acompanhado de uma partitura musical. A dramaticidade causada pelo dispositivo de áudio desloca o espectador do acento para a tela, envolvendo-o com as imagens de forma mais intensa.
Ruttmann experimentava o uso do som de várias formas. Em 1930, lança uma produção totalmente sonora, ou seja, sem imagens. Intitulado Fim de semana, esta produção aponta para a forma narrativa que o som pode gerar. A gravação surpreende pela linha narrativa e, mesmo sem ver o que se passa, nos coloca como espectadores de acontecimentos que se postam de forma sucessiva.
Outro marco na história do cinema sonoro foi o filme The jazz singer (1927) de Alan Crosland. Este musical surpreendeu a todos pela introdução de pequenas falas ao longo da narrativa. Para sua exibição, foi utilizado um sistema de sonorização através do Vitaphone, outro aparelho que sincronizava com mais qualidade a projeção a um disco que dispunha da trilha sonora. Este filme foi primordial para consolidar de vez a presença do áudio em sincronia com a imagem.
Já 2001: uma odisseia no espaço (1968), de Stanley Kubrick, contribui para refletirmos sobre a concepção do som na imagem. O filme se inicia com uma sinfonia com o plano da tela escuro. Kubrick introduz um tempo em que o som impera, e cria novas possibilidades com relação ao uso da trilha sonora, incorporando assim, outro sistema de narrar através do que captamos com nossos ouvidos na sala de cinema.
A matéria sonora cria ambientes, espaços outros, que revigoram uma narrativa cinematográfica. Hoje, a forma audiovisual ganhou força, e move-se com grande movimento, reverberando em outras linguagens como a videoinstalação, determinando para novas construções artísticas que, de certa forma, dialogam com o cinema. A junção do som à imagem trouxe possibilidades diversas à narrativa cinematográfica, e como uma arte híbrida, o cinema soube usar este elemento e incorporá-lo de modo significativo.