29 de janeiro de 2014

Entrevista com o biógrafo de Antonio Olinto: José Luís Lira

Em 2008 um dos escritores brasileiros com maior influência africana em suas obras, Antonio Olinto, é biografado pelo advogado e escritor José Luís Lira que pertence a Academia Sobralense de Estudos de Letras, a qual é o atual presidente. Alem de presidente de Academia Literaria, José Luís Lira já publicou 17 livros, abrangendo alem da biografia, a poesia, a hagiografia, estudos de cultura cearense e a organização de cartas. A entrevista aqui apresenta é um bate papo sobre a biografia Brasileiro com alma africana: Antonio Olinto. A conversa foi realizada via e-mail no dia 4 de janeiro deste ano de copa do mundo. Caso alguém após a degustação desta entrevista manifeste curiosidade sobre o livro, saiba que ele encontra-se disponibilizado para download gratuito pela Fundação Alexandre Gusmão- FUNAG. Ao final desta entrevista anexo o link para os interessados em conhecer a biografia. Por fim a entrevista:

Léo P. Pra você qual a importância das biografias?

J. L. Lira: Thomas Carlyle, historiador escocês, afirma que a História nada mais é do que um conjunto de biografias, porque onde não há a presença do homem não pode existir fato histórico. Então a biografia é de suma importância para o entendimento da História. E do mais humilde ao mais importante cidadão, todos eles fazem uma história e alguns atos deles podem modificar ou fazer a nossa história, daí a importância das biografias.

Léo P.: Você tem acompanhado a polêmica sobre as biografias e os ídolos da MPB? Qual a sua opinião?

Antonio Olinto e seu biógrafo José Luís Lira
J. L. Lira: Tenho acompanhado, sim. Tanto na qualidade de cidadão quanto de jurista. Até participei de dois debates sobre o assunto. Há dois preceitos constitucionais a serem observados. A liberdade de expressão e o direito à privacidade.

Léo P.: Você é a favor de escrever biografias sem o consentimento do biografado?

J. L. Lira: Particularmente, sou a favor da autorização. O inciso X do artigo 5º da Constituição Federal do Brasil determina que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas e assegura o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente dessa violação. Então, não há como qualquer pessoa entrar na vida de outrem, sem sua prévia autorização, e dizer tudo o que quer ou até mesmo denegrir. Dir-se-ia que após, se o biografado não gostasse poderia entrar na justiça para reparação de danos. Mas, aí o dano já estaria causado. Por mais que se reparasse, a pecha estaria configurada e quem tivesse acesso ao trabalho anos e anos depois, ainda veria aquela falsa verdade.

Léo P.: Como foi o seu primeiro contato com a obra literária de Antonio Olinto?

J. L. Lira: Eu conheci Antonio Olinto por sua literatura: “A Casa da Água”, a mim presenteado por Rachel de Queiroz, em meu primeiro encontro com ela. Li sua trilogia africana e encantei-me por sua escrita e depois que o conheci pessoalmente, o encanto só aumentou. Quando terminei de escrever a biografia de Rachel de Queiroz, “No Alpendre com Rachel”, ela o indicou para prefaciar o livro e fiquei maravilhado. A partir daí afinamos nossa amizade.

Léo P.: Como surgiu a ideia para escrever a biografia sobre Olinto? O que mais o motivou a pesquisar sobre a vida e obra de Olinto?

J. L. Lira: Antonio Olinto foi o maior crítico literário do Brasil dos últimos tempos e grande africanista. Eu achava uma falha não haver uma biografia dele. Por isso, fiz questão de saber mais sobre ele; de buscar informações diversas sobre ele. Quando ele veio ao Ceará, apresentar meu livro “A Saga de Gerardo: um Mello Mourão”, decidi lançar a proposta se ele gostaria de ser biografado por mim. Ele aceitou. Lembro-me de suas palavras: “Vendo esta beleza que o Lira escreveu sobre o Gerardo, eu fico pensando o que ele dirá sobre mim. Sobre o escritor Antonio Olinto; sobre o seu amigo Antonio Olinto. Eu hoje sou o homem mais feliz do Brasil, por isso”. Relembrar isso não deixa de nos emocionar. Antonio Olinto tinha uma pura, angelical. Um exemplar raro da beleza e da sinceridade humanas. Um homem lindo na melhor acepção da palavra.

Léo P.: Durante a escrita da Biografia BRASILEIRO COM ALMA AFRICANA, o biografado concordou em imediato em ser homenageado com a biografia? Ele acompanhou de perto o processo de escrita?

J. L. Lira: Como disse, ele declarou seu aceite num evento público. Eu não diria que ele acompanhou de perto a feitura do livro, mas, ele abriu seus arquivos, sua memória e seu coração ao projeto. E não foi difícil porque eu o admiro muito (uso o verbo no presente porque minha admiração nunca diminuiu nem diminuirá por ele). Falar de que amamos, admiramos é cântico ao nosso coração e foi assim que me senti ao escritor Antonio, o menino de Ubá que ganhou o mundo e fixou-se na cidade maravilhosa.

Léo P.: Você utilizou pesquisa de campo para construir o livro, ou apenas consultou arquivos bibliográficos?

J. L. Lira: Entrevistei vários amigos dele, pessoas que conviveram com ele e, é claro, seus próprios escritos que não deixam de ser autobiográficos. Também tive a felicidade de contar com o apoio e a participação da assessora de Antonio Olinto que foi a filha que ele não teve, Beth Almeida, que conhecia a vida de nosso amado mestre como ninguém e colocou-me em contato com seus amigos, seus familiares e até mesmo com muitos textos inéditos dele.

Léo P.: Antes de publicar o livro, Antonio Olinto leu antes para dar a sua avaliação, ou apenas leu depois de publicado? E qual foi a reação dele ao ler a sua vida em um livro?

J. L. Lira: Olinto viu o primeiro esboço do livro e disse que tinha gostado. A partir daí Beth Almeida e eu trabalhamos. Ela revisou os originais. Concluí o livro na madrugada do dia de Santo Antonio de 2007, três meses depois de dizer a ele que faria o livro. Não o enviei diretamente a ele, mas, à Beth, por e-mail e numa primeira leitura. Guardo, com muito carinho, o e-mail de Beth em resposta ao envio do livro. “Lira, que maravilha! Estou sem palavras. O livro está muito bom. Você conseguiu mostrar o Antonio Olinto como ele é. Olha, eu não consigo pegar um original e ler até o fim, este eu não conseguia parar de ler. Deus te abençoe cada vez mais”. Olinto compareceu aos lançamentos do livro no Rio de Janeiro, Minas Gerais e em Fortaleza e se mostrou feliz com sua face mostrada no Brasileiro com Alma Africana: Antonio Olinto.

Link para download gratuito do livro Brasileiro com alma africana: Antonio Olinto:
http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/0456.pdf