Entrevista com a Lote42
Ao surgir, fiquei intrigado. De onde raios teria vindo a ideia de Lote42? De acordo com os seus fundadores, o nome da editora teria algo em comum com a resposta para o sentido da vida e do universo, que Douglas Adams teria criado. E talvez a palavra lote esteja ligada ao processo de novas editoras, que a cada dia surgem, dando um ar de serem um lote "especial". A ideia era e é boa. Principalmente porque o que move a editora é o ideal de que todo suporte é válido, seja ele impresso ou não.
Em menos de um ano, a editora lança o seu terceiro livro (Manual de sobrevivência dos tímidos, de Bruno Maron) e que já chama a atenção da mídia, justamente por não ser nada "comum". E talvez a diferença da Lote42 esteja na sua produção que, de acordo com João Varella e Thiago Blumenthal (são os editores), é lenta porque eles próprios assim desejam. Um livro a cada dois meses já está de bom grado, disseram mais ou menos assim em uma outra entrevista.
Daí, eu, como apaixonado por livros e, também, pelo mercado editorial resolvi fazer uma breve entrevistas com os dois editores e é a que segue abaixo:
Vocês (João e Thiago) são formados em jornalismo. É fácil conciliar as carreiras de repórter e editor?
Thiago – Atuei pouco como repórter na redação mesmo, sempre fiquei mais com a edição. E minha formação é em Letras, com experiência em editoras e livros (editor, tradutor, revisor, preparador etc.), isso ajudou bastante.
João – Nem um pouco. É preciso cuidar bem dos horários e tentar otimizar ao máximo tudo o que você faz durante o dia. Parece que estou há anos sempre com uma sensação de esgotamento. Felizmente, o sacrifício vale a pena. Ver os livros nascendo é uma emoção inenarrável.
Como surgiu a ideia da Lote42?
Thiago – Surgiu da necessidade de ter uma editora que soubesse usar os autores da nova geração, presentes predominantemente em trabalhos na internet (blogs, tumblrs). Ninguém fazia isso. Em dezembro nos juntamos e achamos que era o momento de investir nisso.
O mercado editorial anda aquecido, principalmente quanto à criação de novas editoras. Qual o diferencial da Lote42?
João – Acho que o Thiago matou a charada na pergunta acima. Só pondero que às vezes essa coisa de diferencial pode fazer parecer que estamos em guerra com as outras editoras. Não é isso. É como dizem os jogadores de futebol quando chegam num time novo: Estamos aqui para somar.
Cecília Arbolave, Alexandra Moraes (autora de O pintinho), João Varella e Thiago Blumenthal
A linha editorial da Lote42 se preocupa com a reflexão. E que a postura da editora tem que se preocupar, principalmente, quanto a demarcar o seu papel político e social. Há uma necessidade de deixar isso evidente nos livros para os leitores?
Thiago – Sim, especialmente em tempos de pensar as novas mídias sem desconsiderar o livro impresso. Como usar ainda o livro dentro de um ambiente editorial cada vez mais online.
João – É importante pensar em livros que contribuam algo para a vida das pessoas, mas não acho que tenha de ser evidente. Quando você já põe uma placa de “livro sério para pensar”, o povo não lê. O desafio é provocar e seduzir na mesma medida.
Levando em consideração o que está escrito no site da Lote42 – “Nossos livros sempre vão além do papel” –, vocês acreditam que é viável haver uma existência pacífica do livro digital e do livro impresso?
Thiago – Sem dúvida. Nossos primeiros livros provam isso. São de autores que circulavam exclusivamente no online, no eletrônico. E tiveram ampla aceitação dentro de quem gosta de ler um livro impresso, folheando as páginas.
Em menos de um ano, a editora lança o seu terceiro livro, Livro Manual de Sobrevivência dos Tímidos, do autor Bruno Maron. Qual tem sido a resposta do público em relação aos lançamentos da editora?
João – Maravilhosa. Temos notado um índice de recompra muito bom. Os comentários são sempre positivos em sua maioria. É a vantagem de se lançar poucos livros. Dá para fazer cada um deles muito bem feito.
Quais as maiores dificuldades que a Lote42 tem encontrado?
Thiago – Dificuldades de qualquer editora que acaba de começar e que é pequena: logísticas das mais variadas, isso sem contar a busca pelo espaço nas livrarias. Mas tudo tem acontecido de modo bem sucedido.
João – A luta diária é evitar repassar o custo insano da logística brasileira ao leitor.
Qual a influência da leitura na vida de vocês? Ela salva?
Thiago – Não necessariamente salva, mas ajuda a entender tudo o que a gente vive. É das leituras que a gente aprende algumas coisas que não são ditas no cotidiano.
João – Sim, salva.
Pra findar, nossa breve entrevista, um livro e um autor preferido?
João – Que pergunta sacana... Se é para citar só um livro, citaria o Memorial de Maria Moura, da Rachel de Queiroz. Foi minha primeira leitura “séria” fora das obrigações escolares. Autor você vai ter que me desculpar, mas não dá para responder. Estou sofrendo demais aqui tendo de escolher um só.
Thiago – Em Busca do Tempo Perdido, do Marcel Proust.