Por Nathan Matos
22 de julho de 2013
Os contos juvenistas, de Clayton de Souza
Tenho feito algumas leituras sempre tentando variar o autor para não haver uma possível repetição de temas e de estilos. Mas o que venho percebendo – principalmente neste último ano, quando me aproximei de novos autores – é que há um tema em comum em muitas das obras que li.
Parece-me que em Os contos juvenistas, de Clayton de Souza, esse tema se repete. Apesar da minha fuga, para evitar repetições, constatar que esse tema é constante na imagética de vários escritores é algo bom.
Colocar o ser humano como motriz de grandes romances, seu modo de pensar e de agir são fatores que sempre chamaram a minha atenção, e é o que muitas vezes faz que leiamos o livro até o fim. Assim foi com grandes romancistas, principalmente com Dostoiévski, quando resolveu aprofundar-se na consciência do homem.
Tratar sobre nossas ações, sobre os nossos preconceitos, não é algo tragável para leitores que estão acostumados com romances açucarados ou livros de autoajuda. Talvez, até mesmo quem gosta de livros como os do escritor russo ou de Graciliano Ramos, que de acordo com Carpeaux seria o nosso Dostoiévski brasileiro, não esteja preparado para sentir o peso da própria realidade.
Digo isso não com o intuito de querer atingir determinado nicho de leitores. Pelo contrário, é uma constatação, que em alguns momentos também me é difícil aceitar. Em Os contos Juvenistas, pude sentir o quão perto os assuntos tratados estão a minha volta, e quanto eles podem nos incomodar. Isso ocorre porque já passamos por experiências parecidas ou vivemos em nossa própria pele aquilo que estamos lendo.
Ser um jovem em nosso país não é algo agradável, talvez não o seja em todo o resto do mundo. O jovem, querendo ele ou não, dificilmente terá algo “trilhado” em sua mente, dificilmente saberá quais rumos deverá tomar para que sua vida seja, no mínimo, agradável. Não apenas o jovem, dirão alguns, e concordarei. O homem possui a falta da resposta de saber por quais razões estamos por aí.
Mas são muitos os problemas na mente de um ser juvenil e essa problemática é a que Clayton de Souza deseja nos mostrar. Desde a cusparada que uma criança leva na cara, por ser tímido demais até o momento em que Deus não representa mais nada para um jovem que acabou de completar dezoito anos e busca uma resposta, qualquer que seja para entender o sentido da vida.
E essa busca pode ser percebida em quase todos os personagens de Os contos juvenistas. São “pessoas” comuns com problemas que podem levar qualquer um ao fundo do poço, e que se perguntam por que aquilo tudo está acontecendo. Essa foi a impressão que tive. Obviamente que o autor não deixa explícito que todos estão tentando encontrar algo, mas o sofrimento de todos, amorosos ou psíquicos, está presente, do início ao fim da obra.
Talvez isso se dê porque ser “gente” nos dias atuais, manter uma opinião e ter uma consciência do que somos não é nada agradável. Perceber que pessoas se matam “por pouco” ou entender que as relações familiares ou amorosas podem ser o catalisador para o pior acontecer é o que de fato pode nos fazer refletir sobre o que realmente somos. Sobre quem somos.
Quem somos?
Essa é a pergunta que sempre urge em minha mente quando percebo que as relações humanas são os principais agentes motivadores de uma trama. São as pessoas o centro problemático de quase tudo e quase tudo sempre está relacionado a eles, a nós.
Lendo Os contos juvenistas, tive a sensação que não há escapatória. Escolhendo ser católico ou evangélico, ser de direita ou de esquerda, amar ou não alguém com quem podemos passar o resto da vida, tudo isso é uma teia criada por valores que não se metamorfoseiam com o decorrer dos anos. Essa tradição “valorosa” que temos, e de várias outras sociedades, são mais retrógradas do que modernas. Quando leio esse tipo de história percebo que não evoluímos, ainda estamos indo para 1984. Não resolvemos fugir do que ocorre conosco, resolvemos nos abster da reflexão e de ter consciência sobre o que ocorre a nossa volta, parece-me que preferimos ao sofrimento.
O leitor talvez esteja sentido falta de alguma explicação a mais sobre o livro, sobre os contos, mas entendo que o conteúdo reflexivo que a obra traz é muito maior do que saber sobre o estilo do autor ou sobre a estrutura de todo o livro. Posso afirmar uma coisa: o leitor que não tem paciência, que não gosta de novos estímulos, com certeza não gostará do livro de Clayton de Souza.
No primeiro conto, intitulado, quase como uma mensagem subliminar, A semente; a terra aponta para o início de uma reflexão de confiar ou não no que os outros dizem ou fazem. O fim, abrupto, não representa realmente o fim, mas o início do que poderia ser uma mudança na vida do personagem principal.
Durante todos os contos, o autor além de pontuar a dúvida e a incerteza existente em todos os personagens principais, utiliza-se de vários gêneros literários. Notícias, boletins de ocorrências, diários, tudo é escrito da maneira que o gênero solicita, mas dentro de uma narrativa de conto. Apesar de achar que tudo está bem encaixado, no momento correto, acredito que alguns leitores não se sintam à vontade com esse tipo de leitura.
Desde o primeiro momento, tive a imagem que Os contos juventistas não foi feito para todos os leitores porque, como eu já disse, alguns leitores não gostarão de ver seus ideais ou ideologias sendo tratados de maneiras “escrachadas”; e ao mesmo tempo foi escrito para todos os leitores porque essa é a nossa realidade. Nada ali é mentira, quem dera fosse. Tudo pode ser constatado, mais ou menos dia. Tudo é quase real. E daí o incômodo.
E esse embrulho que se dá perante os olhos, no âmago de nosso ser, é o que faz que a leitura seja boa, pois incômoda. Ela dá um choque. Nem só de finais felizes pode viver o homem, uma vez que não somos finais felizes sempre. Os contos juvenistas são como uma rua cheia de pedras agudas e que você resolve andar por cima, mas que ao final da travessia, com dores e feridas abertas olha pra trás e sorri.