7 de março de 2015

Preciso de “alguém para jogar com Bóris”

Na verdade, a cada dia, os livros infantis têm demonstrado uma perspectiva nova, principalmente quanto às suas temáticas. Já é possível encontrar grandes obras, como Juca e Chico, de Wilhelm Busch, publicadas no Brasil com grande cuidado e com uma preocupação enorme, assim penso, de educar as nossas crianças. A editora Pulo do Gato, que realmente foi um achado no ano de 2014, é uma dessas editoras que não se preocupa apenas em expandir o catálogo e chegar a todos os lugares do Brasil sem se importar com a qualidade do que produz. E isso fica evidente quando se tem em mãos livros como “Alguém para jogar com Bóris”.

ALTA_Alguém para jogar com Bóris

Apesar de não gostar de utilizar determinados adjetivos em meus textos, é quase impossível não dizer que a obra de Edward van de Vendel e Alain Verster possui uma delicadeza que poucas vezes consegui encontrar em alguns escritores brasileiros. Não desmereço, portanto, as obras infantis brasileiras que já li, pois estaria sendo um pouco duro demais. Apenas gostaria de perceber que nosso mercado editorial de literatura infantil realmente se importa com a qualidade do que é apresentado, deixando de lado aquele velho bê-á-bá...

De início, poderia dizer que o sorriso do menino Mateus, atrás de Bóris, na capa, já me ganhou. Sou fraco para belas capas, e quando folheei o livro não pude deixar de me debruçar sobre ele, tendo em vista as belas ilustrações de Alain Verster. Assim, pude perceber que a felicidade que Mateus e Bóris emanavam era particular.

E particular também era o seu convívio, pois tudo faziam juntos, comiam, roncavam e via, principalmente, jogos de futebol na televisão. Mateus era um aficionado, quase um brasileiro, apaixonado por futebol, pois não esqueçamos que no dia em que ganhou Bóris também ganhou uma bola, ambos a sua paixão.

A maneira como o autor nos passa como se dá as ações da infância através das brincadeiras, quando Mateus joga bola com Bóris, ora sendo atacante, ora sendo zagueiro, me fez pensar e parar em como havia sido a minha infância... que a memória, desmiolada, não me deixa lembrar.

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Mesmo sendo um porco, Bóris entendia o que Mateus lhe pedia e tentava agradar o menino, mas sendo um porquinho e tendo suas limitações acabava por não dar muito certo a sua destreza no futebol, Mateus, com certeza, sempre o venceria, mas isso seria o mais importante do que brincar e ser feliz?

Como morava em uma fazenda, os seus adversários eram as galinhas, os gansos e até mesmo o cavalo que nada entendia de futebol. E por isso, Mateus se achava uma pessoa sem sorte, suspirando por não ter alguém com quem mostrar a sua destreza com a bola.

Até que Mateus, um dia, resolveu caminhar com Bóris até achar alguém que pudesse ser seu adversário. E durante todo o percurso Bóris o acompanhou incansavelmente, pois isso é o que você faz quando é o porquinho de alguém.

O livro de Edward parece querer ensinar várias coisas e mostrar um sentimento nada mais justo, que é o da amizade. Isso me ganhou definitivamente. Além de evidenciar que a paciência para encontrar alguém para conseguir realizar um desejo seu é necessária para se conquistar o que se quer. Provavelmente, eu passarei o livro pra frente, presenteando uma mãe ou um pai, para que possam ler essa breve história antes que seu filho durma. As imagens e as frases curtas são o bastante para que o lúdico possa ser desenvolvido e que os sonhos venham, acabando por ensinar que a vida é algo realmente engraçado e bela. Essa é a mais pura verdade.